Relatório & Contas 2019

156 Fundação de Serralves – Relatório e Contas 2019 O ERRO COMO APRENDIZAGEM 16 JUL Na Arte, como na Ciência, não existe um lado certo e um errado. Ambas são processos que decorrem tanto da história quanto do arrojo, do intuito, da vitalidade, do confronto com o desconhecido. Contra o saber científico de então, e apesar da ausência de instrumentos que o pudessem sustentar, Galileu percebeu que a física dos astros era igual à da Terra. Colocando em risco tanto a reputação quanto a vida, usou erros metodológicos, seus e alheios, para mudar mil e quinhentos anos de certezas geocêntricas. Hoje, a obsessão pelo sucesso, pela formatação do ensino vergado à ascensão social, castiga o erro como se este não nascesse da mão dos deuses que habitam a criatividade. O Homem erra porque tenta. E tentará sempre enquanto houver matéria que o provoque e espírito que se incendeie, pronto para a rebelião. Oradores: Gonçalo M. Tavares; Professor Sobrinho Simões Moderadora: Maria João Costa PENSAMENTO COMO PRÉ-ESCRITA 19 SET É no hemisfério da profunda interioridade do pensamento que primordialmente se impõe a realidade. Com ela historicidade, memória, reminiscência. O primeiro momento de perceção é ainda pré-elocutório: o objeto torna-se presente nas sensações mediante a impressão. O intuito colhe-o sem que a razão o julgue. Poderá na Arte, mormente na Poesia, permanecer oculta a transcendência do ser falado, dado que na palavra poética a coisa é todas as coisas em si? E qual o lugar de Deus depois da banalização repetida do seu nome, depois da fala ladainha que, ao invés da Revelação, o verte? Oradores: Frei Bento Domingues; Lídia Jorge Moderação: Luísa Meireles FORMAS DE (IN)VISIBILIDADE 10 OUT Arte é transcendência e imanência. Das suas formas exala a fruição apolínea, a contemplação, talvez o consolo do Belo. Dom humano por excelência este que vê por dentro das coisas o que elas não mostram por fora, razão e emoção dialogam num silêncio do qual há de emergir ainda mais silêncio e, deste, um inconsciente individual, cidadela do tempo de cada um. Assim procede também a Ciência quando longe da inibição dos métodos: a intuição do inimaginável onde os processos só veem o possível. Dados, objetos, visões e instrumentos não chegam para chegar tão longe. É preciso mais. É preciso imaginação, ousadia e, sobretudo, rebelião. Ver não é o que se vê, mas o que se pensa e não se vê. Oradores: Luis Portela; Joana Vasconcelos Moderador: Vitor Gonçalves A ESPIRITUALIDADE LAICA - DE ULISSES AO CASAMENTO DE AMOR 18 NOV Dez anos durara a guerra em Tróia e dez anos mais há de durar o regresso de Ulisses a casa, Ítaca. Um retorno que é, afinal, a busca de um homem pelo seu próprio lugar num universo semeado de desarmonia. A fuga ao destino, enquanto lugar social consagrado e imutável, é definitivamente abraçada na sequência da primeira revolução industrial. Meios de produção, comunicações, novas fontes de energia farão milhões deslocar-se em busca de trabalho e melhor vida. Já não casarão pela pressão da aldeia, do pároco, da família, mas por escolha própria. Penélope mora em Manchester, nas Américas, em Vizela. Onde houver pão, será Ítaca. Orador: Luc Ferry

RkJQdWJsaXNoZXIy MTQ0Mg==